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sábado, 28 de setembro de 2013

1 mês e meio morando na cidade do Panamá.

Vista da cidade na Cinta Costeira


O que falar de um país tão parecido e ao mesmo tempo tão diferente do Brasil? Cheguei ao Panamá há um mês e meio, sem expectativa, mas ao mesmo tempo com o coração cheio de esperança. Hoje lembro de como vim parar aqui.

Há alguns meses, o sonho do intercâmbio pôde se tornar real quando estava num dos Eventos da AIESEC, (instituição que proporciona intercâmbio para jovens universitários), e vi meu braço levantando sozinho quando perguntaram: " quem aqui quer fazer um intercâmbio?" Eu não imaginava que a partir dali tudo ia mudar, e como iria MUDAR. Desde então, fui dando avanço ao processo meio que mecanicamente, sem pensar muito no que estava fazendo. Todos os procedimentos foram passando como se eu tivesse fazendo tudo aquilo para outra pessoa. Um futuro "eu" que iria aproveitar a experiência enquanto eu continuava a viver minha vida normalmente. Não conseguia acreditar que EU realmente iria fazer aquilo!  Não era minha vizinha nem meu amigo, nem aquele cara estranho da faculdade. Era EU! Enquanto a ficha não caia eu ia avançando nos processos.

A escolha do país foi difícil, para mim,  o objetivo maior da viagem deveria ser o crescimento profissional, então queria um lugar que não chocasse tanto os meus princípios culturais. Eu me vejo viajando por todo o mundo mas imagina ter que morar num país tendo que trabalhar 8 ou 9 horas por dia e ainda lidar com todas as preocupações que a barreira dessas diferenças te causam? Pensava que seria demais. Fiz entrevista para diversos países, entre eles Índia, China, Ucrânia, México, Costa Rica, Colombia, Panamá e muitos outros. Decidi por final que na verdade não iria escolher o país e sim, o emprego dos meus sonhos iria me escolher. Estava procurando por algo que sempre sonhei fazer e quando encontrasse não importaria qual país seria. Após várias entrevistas, alguns meses e muita insegurança me restava 3 opções: India, trabalhando numa startup de social media, Colombia trabalhando numa grande empresa fazendo design de estampas para acessórios de cozinha (!!!) ou Panamá trabalhando numa grande empresa de produtos esportivos como designer gráfico do ecommece. Ao final, como eu pensava, o emprego dos meus sonhos me escolheu e após 2 entrevistas, um teste de design e uma carta motivacional em espanhol passei na vaga para trabalhar na adidas group América Latina.


Prédios adidas group Panamá


Fiz toda a preparação da viagem e me sentindo estranha. Era como se por fora tudo fosse normal, mas por dentro eu estava num estado de dormência sem acreditar em tudo aquilo, vivendo uma espécie de sonho. Isso se passou até eu, chegar aqui, sair do aeroporto, olhar para um lado e para o outro e pensar WTF! I AM IN PANAMÁ! Parecia que eu tinha aterrizado em outro planeta e não em outro país. Bom, um detalhe é que eu não sabia falar basicamente nada de espanhol, estudei meio semestre antes de saber que viria para cá, sem dar muita atenção as aulas. Todas as minhas entrevistas foram em inglês e quando me perguntavam algo em espanhol simplesmente eu não conseguia responder, porque a resposta só me vinha em inglês. Vai saber porque me contrataram para uma vaga que exigia espanhol, se eu mal sabia falar "Hola". Você pode chamar de sorte ou destino, mas eu chamo de "uma puta cagada". Minha resposta a primeira pergunta em espanhol foi em inglês e eu disse: "eu posso não saber responder em espanhol agora, mas se você me der uma chance em pouco tempo eu posso aprender". De qualquer forma, eu realmente comecei a aprender assim que desembarquei. Onde pego minha mala? Onde fica a migração? Em que buraco a pessoa que iria me buscar se meteu? Onde compro um chip de celular? Ok para, agora você deve estar pensando: " essa garota está exagerando, se falamos português conseguimos entender espanhol..." caro amigo, tente entender alguma coisa do espanhol Panamenho ás 7 horas da manha, depois de 8 horas de viagem com um velhinho roncando do seu lado.


No fim das contas cheguei a casa que iria ficar sã e salva e 2 dias depois já estava pronta para meu primeiro dia de trabalho. Coloquei minha melhor roupa e fui toda confiante contando os passos e os minutos até o prédio do trabalho, já que moro há 10 minutos de distância. Desde de o primeiro dia encontrei um clima super receptivo e descontraído. todos estavam usando tênis, jeans e camiseta para ir trabalhar, e tinham sorrisos e olhares simpáticos. Meu chefe tem apenas 27 anos e é uma das melhores pessoas que já conheci. Super mente aberta, disposto a ouvir e preocupado com meu desenvolvimento. Parece até um professor que me explica pacientemente e repete para ter certeza de que eu entendi.



Recepçao da adidas Group


Minha área tem apenas 1 ano de atuação e pessoas do mundo inteiro: mexicano, americano, colombiano, argentino etc. Trabalhamos como sede de desenvolvimento do ecommerce de 5 países: Colombia, Chile, Peru, México, Argentina. O clima do dia a dia é descontraído, não batemos ponto, nem temos horários rígidos e o expediente normal é de 8 ás 5, com 1 hora para almoço. Apesar disso trabalhamos com bastante dedicação. Já vi várias pessoas, inclusive meu chefe, sair as 10 da noite do escritório e eu mesma já fiquei até as 8 diversas vezes. Apesar disso, ao chegar em casa super cansada, a sensação de dever cumprido faz valer a pena. Pude perceber meu desenvolvimento pessoal e profissional e também ganhei vários feedbacks, muitos positivos e alguns negativos mas que me fazem perceber o quanto tenho sorte de estar numa experiência como essa e dar valor a cada momento que estou aqui.


Corrida para funcionários adidas. "run around the globe 5k".
Na foto, intercambistas mexicanos, peruanos,
 venezuelanos, colombianos,  etc :)

Terminando a corrida depois da chuva - 5k 

O Panamá tem muita semelhança com o Brasil e principalmente com minha cidade. O clima de calor e umidade me faz pensar que estou em Fortaleza, só que aqui todos falam espanhol e o Caribe é ali do lado :) Apesar disso, ainda há muitas coisas diferentes. Aqui aprendi a viver sozinha, enfrentar minhas dificuldades. Tudo que não fazia em casa tive que começar a fazer aqui. Cozinhar, lavar roupas, fazer compras, pagar contas e segurar o dinheiro no fim do mês. Morar com pessoas que nunca vi na vida e ter que lidar com vários tipos de culturas e personalidades, muitas vezes, engolindo o orgulho e as opiniões e tentando conviver em harmonia. Paciência, respeito e humildade são coisas que estou aprendendo aqui todos os dias. O choque cultural é inevitável independente de que país você esteja. Já teve dias que chorei, que odiei e que quis que uma bomba explodisse cada centímetro desse país. Mas ao mesmo tempo já senti uma imensa felicidade por causa de uma vista bonita, curti uma boa comida e amei como aqui pode ser tão pequeno e grande ao mesmo tempo. Aqui vou vivendo uma relação de amor e ódio em que cada dia uma nova experiência está me esperando. Esses 45 dias pareceram uma eternidade para mim. O tempo passa de maneira diferente. Parece que tudo está passando muito rápido, mas o número enorme de coisas novas que acontecem todos os dias te dá a sensação que já faz um tempão que você está aqui.



Vista da parte Central da cidade do Panamá

Pescado com patacones no Mercado de marisco.


É estranho tentar se adaptar a uma vida completamente diferente da que você tinha. Hábitos, culturas, pessoas. Espanhol vindo de todos os cantos do mundo, inglês e português mesclados na sua cabeça como se fossem uma coisa só. E quando você quer falar algo que sai misturado em 3 línguas? E quando ninguém entende o que você quer falar porque essa palavra nem existe? Tudo aqui é novo e ainda tenho milhões de coisas para descobrir. Que venham os próximos meses, novos desafios e com eles novos sonhos. Estou pronta!